Foi num 19 de dezembro como este que o pintor morreu

Sei disso e admiro o valor de quem arrisca couro e cabelo.
Mas é como se fosse na televisão.

Depois quando ouço o zeca, a morte ganha vida.

abriu janelas onde nem paredes havia

José AfonsoEra Um Redondo Vocábulo

Zeca no panteão

Este é o meu post mensal relacionado com o noticiário corrente.

A minha opinião é que merece mas não deve.

Não deve porque em vida sempre recusou honrarias e condecorações. O Zeca recusou-as em vida e a família recusou-as em morte. E bem.
Pediu para ser enterrado em campa rasa junto aos seus. E que não fizéssemos luto.

E merece pela dimensão do que era enquanto homem e de génio como músico. Na verdade merecia estar lá duas vezes.

Estou a escrever isto porque vim agora do café, e atrás de mim um miúdo pôs-se cantar: o que faz falta é animar a malta
Isto foi gravado em 1974, já lá vão 44 anos. Em 2062 alguma destas musicas vai ser cantada num café?
https://www.timeout.pt/lisboa/pt/musica/os-melhores-discos-portugueses-de-2017

Até o CDS-PP escolheu umas das suas músicas para a campanha.
Pensavam eles que era música tradicional portuguesa. O Zeca em vida já era uma tradição.
E nenhuma destas duas são das melhores músicas do Zeca.

Deixem-no estar ali a 100 metros do que era a minha janela.
Se lá voltar vou lembrar-me dele. E se não voltar, também.

A formiga no carreiro

Retirado do blogue duma pessoa informada e inteligente:
A Folha de S. Paulo prefere retirar-se simplesmente da rede social; para mim é pena, pois gostava de os ler quando, por acaso, dava com eles no meu mural. Mas aceito a decisão e fico de olhos ainda mais abertos para perceber até onde o Facebook deseja que nos leve o seu algoritmo.

José AfonsoA formiga no carreiro

E as vozes embarcam num silêncio aflito

Que amor não me engana
Com a sua brandura

Se da antiga chama
Mal vive a amargura
Duma mancha negra
Duma pedra fria

Que amor não se entrega
Na noite vazia?

E as vozes embarcam
Num silêncio aflito

Quanto mais se apartam
Mais se ouve o seu grito

Muito à flor das águas
Noite marinheira

Vem devagarinho
Para a minha beira
Em novas coutadas
Junta de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera
Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
Pelo nascer do dia

José Afonso - Era Um Redondo Vocábulo

zeca

Rio Largo de Profundis

por onde anda o vento que não vejo?

não anda que não tem pés

Rio largo de profundis
Uma neta pra nascer
Amor avenidas novas
Praça de Londres a arder
Não quero martelo e rima
Aqui no Largo da Graça

O meu amor por este homem não tem medida




'o zeca abriu janelas onde nem paredes havia'





Podia ficar horas a falar sobre o Zeca Afonso e não chegava. Um génio musical que morreu pobre a lutar pelos outros.