13 comments on “A gente se acostuma

  • Carla says:

    Há muitas formas de fazer algo maravilhoso e lindo todos os dias. É quem recebe que tem de estar sensível a isso, a maravilha e a beleza do acto não diminui se não for apreciado como deveria — ele foi maravilhoso e lindo para quem o fez.

    A habituação é que é a raiz de todos os males. Pelo menos se nos habituarmos a tabelarmo-nos sempre por baixo, porque fazer o difícil às vezes é demasiado… difícil. 🙂

    • Luis Rodrigues says:

      A beleza não diminui se não for apreciado?
      Uma árvore só faz som ao cair,se tiver ar à volta. A beleza é subjectiva e é uma qualidade dada por quem o acha belo.
      O belo no vazio não é belo, é masturbação.

      O que é demasiado difícil é impossível.
      Nunca fui muito carneirinho, mas desta vez estou mesmo no contra de brincadeira 🙂

      • Carla says:

        «O belo no vazio não é belo, é masturbação.»

        Estás a dizer branco no preto que, assim num primeiro exemplo que me veio à cabeça, eu estiver sozinha numa sala necessariamente vazia, estou obrigatoriamente a fazer coisas indecentes???

        Pronto, é desta. Nunca mais cá venho!
        Estamos conversados!

        • Luis Rodrigues says:

          Estou a dizer que estás a criar a tua própria felicidade 🙂

          A propósito de sala vazia. Uma que vi num filme que comecei a ver ontem. Num copo vazio, quantas gotas de água cabem?

          • Carla says:

            É uma felicidade relativa. Acho eu, que de salas vazias percebo pouco.

            Depende do tamanho do copo e da grossura das gotas.

  • E quem diz que a gente se acostuma? tu!
    Eu não. Fico maravilhada com o que tu chamas pequenas coisas.
    Não existem pequenas coisas. As pequenas coisas são grandes coisas. Já a facilidade é outra conversa

    • Luis Rodrigues says:

      Pronto, pronto sou um acostumado ó sortuda 🙂
      Confesso que a mais das vezes passo os dias como se a dormir, pode passar-me à frente um trombone de quatro patas a descascar cenouras que nem reparo.
      Mas ás vezes também acordo, ó se acordo.

      E agora desafio-te a teres a conversa da facilidade. para se ver se é fácil. 🙂

  • Isabel Pires says:

    Que bom trazeres aqui esse poema da Marina Calasanti.
    A gente se acostuma, mas não devia.

    A parte do toda a gente vai notar ou vai ignorar não me agrada pelo facto de facilmente se presumir que é sempre necessária a aferição dos outros e que a espectacularidade é que vinga ou tem mais força.

    Algo sem graça nenhuma, no sentido de não acrescentar nada de bom no sentido abrangente, bania-o de vez. Não me interessa para nada, mesmo que toda a gente note.

    Algo glorioso e lindo acontece todos os dias nas nossas vidas, numas mais do que noutras. E quanto menos se pensa no glorioso e lindo, mais importância terá. Tal como a felicidade e a liberdade. Quando se pensa nelas é porque estão a escassear. (Sei que já disse isso aqui.) Talvez o mais difícil seja conseguir uma vida gloriosa e linda feita de bem-estar, tranquilidade, a resolver as coisas, sem a ansiedade de se ter de inventar com frequência algo de espectacular. Por isso, fazer o fácil é que é difícil, sim.

    • Luis Rodrigues says:

      Porque é que se presume que o espectacular ganha ao belo?

      E porque se associa espectacular ao inesperado (que fui o que usei)?

      E porque é que apesar de se assumir isso, a maioria dirá que o importante é a coisa em si, o interior, e não as opiniões que giram à volta.

      Isso do difícil disse-o há algum tempo num contexto que não interessa agora, mas que tinha a ver com a constância das coisas.

      Ninguém espera que se se faça uma coisa que é difícil todos os dias. E por isso há pessoas que fazem um gesto muito bonito (e difícil) uma vez. E depois cagam no assunto.

      Isso é fácil. Requer um momento de esforço, e depois pode-se ir de ‘férias’.

      Agora fazer um pequeno gesto, uma pequena atenção (e fácil de se fazer), mas fazê-la todos os dias, é muito difícil.

      • Isabel Pires says:

        Novidade: finalmente atinei com o teu blogue, o que é espectacular! ;)))
        Está com tudo certinho. Comentários a entrar no mail que agora era a grande ambição por aqui. 😉
        Mas transpirei mais do que numa semana inteira de ginásio em treino de alta intensidade!

        Quanto à tua primeira questão, não concordo que o espectacular ganhe ao belo, mas reconheço que socialmente é maioritariamente assim.
        Repara: aqui não há necessariamente dois lados da barricada. O espectacular pode ser belo.

        Segunda questão: a noção de espectáculo está associada a algo que sai da norma, no sentido de não fazer parte da rotina e também por isso costuma ter uma componente de mistério.

        Terceira questão: a maioria dirá que o importante é a coisa em si porque socialmente é melhor aceite, é “politicamente correcto” como às vezes se ouve. Mas a prática mostra o contrário.

        Relativamente à noção de difícil parece-me que o que disseste é coincidente com o meu entendimento. Talvez haja ali uma ligeira nuance quando referi que a vida gloriosa e linda é construída essencialmente no dia-a-dia – reafirmo-o – que não espera o fogo de artificio de algo espectacular, embora o possa integrar de vez em quando. Só por isso pode ser designado de espectacular.

  • Luis Rodrigues says:

    Num copo vazio só se pode pôr uma gota de água
    depois da primeira gota deixa de estar vazio

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